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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Classe de Prestígio de Galrasia - O Mundo Perdido - Explorador Destemido




Explorador Destemido

Pré-Requisitos:

Perícias: Treinado em Atletismo e Sobrevivência.
Talento:
Iniciativa Aprimorada, Prontidão e Reflexos Rápidos.Pontos de Vida por Nível: uma drogadora ganha 4 PV (+ mod. Con) por nível.

Pontos de Vida: um explorador destemido ganha 4 PV (+ mod. Con) por nível

Nível

BBA

Especial

+0

Sobrevivência Garantida, Segredo Selvagem

+1

Evasão, Queda Lenta

+2

Esquiva Sobrenatural

+3

Segredo Selvagem

+3

Queixo de Pedra

+4

Reflexos Relâmpago

+5

Segredo Selvagem

+6

Quase um Nativo

+6

Mente Calejada

10º

+7

Segredo Selvagem, Sexto Sentido



Habilidades de Classe:

Sobrevivência Garantida: mestre supremo em técnicas de sobrevivência, o explorador destemido adiciona o seu nível desta classe de prestígio como um bônus em testes de Sobrevivência e Atletismo quando estiver em qualquer área não-urbana e sempre pode escolher 10 nesses testes.

Segredo Selvagem:
no 1º, 4º, 7º e 10º níveis, o explorador destemido aprende um segredo das selvas que apenas seres exóticos – e os exploradores – tem acesso. Cada vez que indicado na tabela da classe, o personagem pode escolher uma das habilidades a seguir:

Evasão:
a partir do 2º nível, quando sofre um ataque que permite um teste de Reflexos para reduzir o dano à metade, você não sofre nenhum dano se for bem-sucedido. Você ainda sofre dano normal se falhar no teste de Reflexos.


Essa habilidade de exige liberdade de movimentos; você não pode usá-la se estiver imobilizado ou usando armadura média ou pesada.

Caso o personagem já possua evasão, recebe evasão aprimorada idêntica à habilidade de mesmo nome do ladino.

Queda Lenta: a partir do 3º nível o explorador destemido pode reduzir sua queda se estiver próximo a uma parede, árvore ou muralha durante a queda. Essa habilidade reduz a altura da queda em 6 metros. No 5º nível esse valor aumenta para 12 metros e, no 8º nível, para 18 metros. Se o explorador tiver em mãos uma corda, uma corrente com cravos ou chicote, pode utilizar a habilidade queda lenta a até 6m da parede, árvore ou muralha.
Esquiva Sobrenatural: a partir do 3º nível, seus instintos ficam tão apurados que você consegue reagir ao perigo antes que seus sentidos percebam. Você nunca fica desprevenido (veja "Surpresa" no Capítulo 8: Combate do Tormenta RPG: Módulo Básico).

Caso já tenha recebido esquiva sobrenatural de outra classe você recebe esquiva sobrenatural aprimorada igual à habilidade de classe do ladino.

Queixo de Pedra: no 5º nível, depois de sofrer todo tipo de agressão física, o explorador destemido aprende a tolerar golpes que derrubariam outros. Ele pode realizar um teste de Fortitude quando sofrer dano (CD = dano sofrido). Caso seja bem-sucedido, o dano é reduzido à metade. O explorador destemido pode usar está habilidade uma quantidade de vezes por dia igual ao seu modificador de Constituição (no mínimo uma vez por dia em caso de valor nulo ou inferior).

Reflexos Relâmpago: no 6º nível, um explorador destemido de 4º nível reage a ameaças de maneira quase instantânea. Ele soma seu nível nesta classe de prestígio com seu bônus em testes de Iniciativa e Reflexos.

Quase um Nativo: no 8º nível, por sua prática ao negociar com outros povos, o explorador destemido entende os padrões das culturas exóticas, sabendo a hora de falar, de negociar e - mais importante - a hora de ficar calado. O personagem recebe um bônus igual a metade do seu nível desta classe em testes de perícia com habilidade-chave Carisma ao lidar com povos estrangeiros - qualquer raça que tenha idioma básico diferente do explorador destemido.

Mente Calejada: No 9º nível, o explorador destemido viu e sofreu de tudo. Mais que cicatrizes, ele carrega a certeza de que o desconhecido esconde coisas bizarras e assustadoras demais até para os mais bravos aventureiros - coisas que a humanidade não deveria jamais conhecer. No 8º nível, o explorador ganha um bônus igual ao seu nível nesta classe contra qualquer efeito ou magias de medo e/ou ação mental.

Sexto Sentido: no 10º nível, o explorador destemido é tão confiante em seus instintos que ele pode atuar como um sentido místico. O personagem pode conjurar sexto sentido três vezes por dia, com nível de conjurador igual a seu nível nesta classe de prestígio, como uma habilidade similar a magia, mas apenas sobre si mesmo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Classe de Prestígio de Galrasia - O Mundo Perdido - Drogadora

Drogadora
Pré-Requisitos:
Perícias: Treinado em Conhecimento (natureza) e Cura.
Talento: Fortitude Maior, Foco em Pericia - Conhecimento (natureza) e Foco em Pericia - Cura.
Especial: apenas mulheres podem ser drogadoras.

Pontos de Vida por Nível: uma drogadora ganha 4 PV (+ mod. Con) por nível.

Nível
BBA
Especial
+0
Curandeira Exímia, Produzir Poções 1/dia
+1
Imunidades
+2
Toque Curativo, Poções Extras +2
+3
Tolerância à Dor, Imunidades
+3
Produzir Poções 2/dia, Toque Curativo Aprimorado
+4
Intuição Natural, Tolerância à Dor, Imunidades
+5
Toque Curativo Maior
+6
Tolerância à Dor, Imunidades
+6
Poções Extras +2
10º
+7
Curandeira Perfeita, Produzir Poções 3/dia

Habilidades de Classe:
Curandeira Exímia: a drogadora tem extraordinário conhecimento sobre os segredos do corpo. Ela adiciona seu nível desta classe como um bônus em testes de Conhecimento (natureza) e Cura e sempre pode escolhe 10 nestes testes.

Produzir Poções: a partir do 1º nível, através de procedimentos secretos - e será melhor para todos que continuem secretos...-, a drogadora pode fabricar poções. Ela pode, uma vez por dia, produzir uma poção com nível de conjurador igual a seu nível nesta classe de prestígio, sem custo em PO ou XP.A drogadora não precisa ter o talento Preparar Poção, conhecer as magias necessárias ou ter qualquer outro pré-requisito necessário para criar a poção normalmente. No entanto, seu acervo de receitas é limitado. Ela sabe preparar um número de tipos de poções igual ao seu modificador de Sabedoria. Sua lista de poções conhecidas é escolhida pelo jogador.
No 3º e no 9º níveis da classe, o personagem aprender dois tipos de poções novas à sua escolha, totalizando quatro tipos de poções novas no nono nível.
No 5º e no 10º níveis da classe, o personagem poderá utilizar está habilidade uma vez a mais por dia.

Imunidades: por sua saúde perfeita e extrema tolerância a toxinas, a drogadora adquire certas imunidades e resistências, conforme avança nesta classe de prestígio.
No 2º nível torna-se imune a qualquer doença, seja sobrenaturais ou mágicas e venenos.
No 4º nível adquire resistência a ácido 5.
No 6º nível torna-se imune a paralisia, petrificação e sono.
No 8º nível adquire resistência a ácido 10.

Toque Curativo: a partir do 3º nível, as próprias emanações corporais da drogadora atuam como medicamentos poderosos e preservam a vida. Ela pode, com um toque e uma ação padrão, curar 1d8 pontos de dano de uma criatura. Esta habilidade pode ser utilizada um número de vezes por dia igual ao seu bônus de Sabedoria.

Tolerância à Dor: treinada para suportar as piores provocações físicas, a drogadora é muito resistente à dor. A partir do 4º nível, quando está com pontos de vida negativos, é considerada incapacitada - em vez de morrendo. Isso significa que ela se mantém consciente e pode realizar uma ação padrão - sofrendo 1 ponto de dano - ou uma ação de movimento por rodada. A drogadora ainda morrerá se atingir seu limite de PVs negativos ou menos.
No 6º nível, uma drogadora com PVs negativos não estará incapacitada e nem morrendo, podendo agir normalmente, sem qualquer limitação. A drogadora ainda morrerá se atingir seu limite de PVs negativos ou menos.
No 8º nível, um drogadora só morre se chegar ao dobro do seu limite de PVs negativos ou menos.

Toque Curativo Aprimorado: a partir do 5º nível na classe, a habilidade toque de cura passa a curar 2d8 ao invés de apenas 1d8.

Intuição Natural: a partir do 6º nível, a drogadora recebe Intuição Natural como um talento bônus, sem precisar satisfazer seus pré-requisitos. Caso já possua este talento, ela recebe um bônus igual ao seu nível nesta classe de prestígio cumulativo com o bônus natural do talento.

Toque Curativo Maior: a partir do 7º nível na classe, a habilidade toque de cura passa a curar 3d8 ao invés de apenas 2d8.

Curandeira Perfeita: no 10º nível, a drogadora descobre os segredos do ciclo da vida e atinge o ápice das capacidades curativas. Sua habilidade de toque curativo agora cura 10d8 e suas utilizações diárias aumentam em 5.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Raças de Galrasia - O Mundo Perdido

Dragoas-Caçadoras
+4 Des +2 Con -2 Int
Deslocamento 9m em terra
+4 em Atletismo e Sobrevivência
+4 em qualquer tentativa de imobilizar um oponente
Visão na Penumbra
Escaladora Habilidosa: dragoas-caçadoras não recebem penalidade de deslocamento em escalada.
Armas naturais: 2 garras (1d4 + mod. For, cortante, crit. x2)
Mordida (1d6+ mod. For perfuração, crit. x2)
Talento Adicional: Regeneração e mais um da seguinte lista: Casca Grossa, Esquiva, Fortitude Maior, Tolerância ou Vitalidade
Idioma básico: Thera-go


Dragões-de-Chifres
+4 For +2 Con -2 Int
Estrutura Poderosa: Apesar do tamanho médio, são considerados Grandes para qualquer pré-requisito, uso de arma e manobras especiais de combate
Deslocamento: 9m
Armas Naturais: Chifres (1d6 + mod. For, crit x2, perfuração). Pode realizar um ataque adicional por turno com os chifres, mas provoca uma penalidade de -4 em todos os ataques daquele turno.
Armadura Natural: +1 por Coro Rígido
Bônus em Perícias: Machos: +4 em Intimidação e usam Força como habilidade-chave
Fêmeas: +4 em cura, Ofícios, Profissão ou Sobrevivência
Medo de Altura: Caso tenha de subir qualquer altura acima de 3m ou se estiver até 3m de uma queda dessa altura, sofre uma penalidade de -4 em todas suas jogadas e testes. Ele também não pode realizar nenhuma ação que dependa de concentração, como conjurar magias.
Idioma básico: Thera-go

Dragões-Voadores
+4 Sab, +2 Des -2 Int
Deslocamento: 9m em terra ou 15m em vôo. Capacidade de manobra média (Des 11 ou menos), boa (Des 12-21) ou Perfeita (Des 22 ou mais).
Medem o dobro de altura do personagem quando as asas estão abertas e precisam desse espaço para voar. Não conseguem voar usando qualquer tipo de armadura.
Visão na Penumbra
Armas naturais: 2 pés com garras (1d4 casa, + mod. de For)
Ligação Natural: Pteros escolhem um membro do sexo oposto. Os dois podem comunicar-se mentalmente quando estão dentro do alcance visual e um sempre saberá em que direção e distância pode encontrar o outro
2 Talentos Adicional da seguinte lista: Asas de Aço, Esquiva, Iniciativa Aprimorada Investida Aérea, Prontidão, Rastrear, Reflexos de Vôo, Reflexos Rápidos ou Vitalidade
Senso de Direção: Sempre sabem o norte. Apenas no Plano Material.
+4 em Atletismo, Percepção e Sobrevivência
Mãos rudimentares: as duas mãos são consideradas inábeis. Além disso, -2 em testes de Destreza e perícias que envolvem habilidade manual.
Idioma básico: Nenhum

Dragões-Antílopes
+4 Des, +2 Con, -2 Sab
Deslocamento: 12m
Visão na Penumbra
2 Talentos Adicionais da seguinte lista: Corrida, Esquiva, Faro, Prontidão, Iniciativa Aprimorada, Reflexos Rápidos ou Tolerância
+4 em Atletismo e Sobrevivência
Para Velocis, a habilidade-chave de Atletismo é Destreza ao invés de Força
Idioma básico: Thera-go

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Hayabusa O Ronin - 10 anos atrás

Tamura,10 anos atrás: 
Próximo ao Palácio do Imperador.

-- Ti-Neh! Ti-Neh! Corra! Temos que sair daqui agora!
Os dois corriam o mais rápido que as suas pernas cansadas e corpos feridos permitiam. Mesmo com a loucura que transbordava do ambiente rubro e com fedor de morte que a cidade havia adquirido, eles sabiam que a única chance que possuíam era chegar ao palácio Imperial a tempo.
Anjih era um jovem forte para os seus quinze anos. Desde cedo batalhava para entrar no corpo da Guarda Celestial, como seu pai e o seu avô. Treinava longas horas todos os dias para que chegassem pelo ao menos à capacidade física e mental mínima para tentar o teste de admissão.
Se tudo corresse bem, o teste seria realizado em menos duas semanas e pelo que todos diziam, Anjih tinha tudo para ser aprovado. Era forte, rápido, ágil, com um bom conhecimento em artes marciais e bastante disciplinado. Seria um bom Guarda Celestial.
Ou poderia ter sido...
Sua irmã mais nova, Ti-Neh, era uma criança comum para os padrões Tamuranianos. Apenas um pouco mais curiosa do que a maioria das famílias poderia querer. Suas perguntas, insistentes e muito rápidas, eram capazes de deixar seu pai confuso e seu irmão orgulhoso.
Mas aquela não era hora para perguntas. Na verdade a única coisa em que Ti-Neh conseguia pensar era numa razão para que Lin-Wuh tivesse permitido aquela desgraça rubra que caía do céu. Por todos os lugares em que haviam passado, os prédios, as casas, as pessoas... Tudo se desmanchava na medida em que a névoa caia e a chuva ácida aumentava.
E com a chuva vieram as suas tropas de pesadelo...
Mesmo fazendo força para olhar apenas para o chão, sem se preocupar com o que surgia aos lados, como Anjih havia mandado, Ti-Neh ouvia os gritos... Ouvia os choros de loucura e sentia a morte em cada uma dos sons de carne rasgada e gorgolejos de sangue.
O Palácio estava perto. Numa das poucas vezes em que levantou os olhos, percebeu um brilho ao redor dele que ia ate além de seus telhados dourados, englobando parte das casas e prédios que ficavam ao redor. Tinha certeza de que se chegassem lá, poderia ficar tudo bem. Só tinham que encontrar seu pai que estava lá dentro, como guarda pessoal do Imperador...


Tamura, 10 anos atrás:
Próximo ao Portão da Harmonia Dourada (leste) do Palácio.

As duas crianças se esgueiravam por qualquer pedaço de construção que pudesse ser proteção para a chuva que aos poucos aumentava. Sabiam  que ela só aumentaria e que a qualquer momento nem mesmo as marquises poderiam impedir que eles mesmos se transformassem em possas de gosma sangrenta.
Anjih vasculhava o caminho a procura de outros perigos e tinha a certeza de que olhos os espreitavam. Dezenas de pessoas corriam para todas as direções, gritando, chorando e implorando por perdão...
Como se alguém pudesse ajudar...
Mas os olhos que Anjih sentia nele não tinham nada de humano... Nem de medo. Eram olhos de criaturas que ele via apenas com o canto dos olhos, como vultos que se moviam sempre quando não se estava olhando e que quando se procurava não estava lá.
Mas estavam sim!
Pessoas caiam aqui e ali e em seus corpos inertes percebiam-se marcas que não poderiam ter sido feitas pela chuva de sangue. Eram marcas de instrumentos cortantes, garras e presas. Gargantas cortadas, corações fora dos corpos. Órgãos espalhados sem que se pudesse saber quem eram os seus donos.
Mas não se via quem ou o que estava matando e mutilando daquela forma. Só se ouviam os gritos entrecortados e sentiam-se as presenças. Seja lá o que fossem, estavam em grande número e aumentavam à medida que o céu ficava mais e mais cor de sangue.
A Guarda Celestial tinha sido dividida em dois grandes grupamentos. Um tentaria organizar os cidadãos e trazê-los, seguindo as ordens do Imperador, para dentro dos limites estabelecidos das ruas que ficavam próximas à entrada Sul do Palácio. Seja lá o que acontecesse, o máximo de pessoas deveria estar no local combinado até o pôr do sol. Quem não estivesse lá... Ninguém sabia o que aconteceria. Esse Grupamento era liderado pelo Comandante Yoshi, pai de Anjih e Ti-Neh.
O outro grupamento, liderado pelo Capitão Toranaga estaria encarregado de proteger os que chegassem ao palácio e o próprio Imperador. Seja lá o que fosse ocorrer, os magos do Imperador e a própria Figura de Jade estavam reunidos a portas fechadas com ordem de não serem interrompidos por nada. Um enorme encanto estava sendo conjurado.
Em cada um dos Pontos cardeais havia um Portão que dava passagem pelas muralhas com dezenas de metros de altura e outras dezenas de largura. Os portões eram: Portão da Paz Azul, ao Norte; Portão do Amor Imperial ao Sul; Portão da Coragem Escarlate ao Oeste e Portão da Harmonia Dourada a Leste. Esse último era onde as duas crianças estavam no momento.
As duas crianças estavam aos pés das muralhas. Por sobre elas, sentinelas montariam guarda, abrigados da melhor forma possível, sob os telhados das guaritas. Por toda extensão da muralha (e ela era gigantesca, sendo considerada por todos os eruditos e estudiosos, a maior muralha de todo o reinado) havia sentinelas. Dizia-se que nenhuma força de Arton seria capaz de Invadir a morada do Imperador.
O que era verdade até aquele momento. Não se sabia, no entanto, o quanto esse momento duraria, mesmo o custo para isso tendo sido muito alto.
Os restos de soldados atestavam isso. Cada mancha de sangue indicava o local onde alguém morrera, e havia milhares delas. Pedaços dos muros começavam a despencar, trazendo com eles corpos e restos de soldados.
Entre um e outro os dois jovens corriam, Deveriam ainda percorrer parte um quarto dos muros e como o que quer que tenha matado os soldados não haviam conseguido abrir os portões, não havia ainda passagem para entrarem, além dos quatro portões.
Aqueles homens haviam morrido para cumprir a promessa de não permitir que nada e nem ninguém que não fosse tamuraniano entrasse... Se o amontoado de corpos em pedaços ao redor da muraria não era maior, devia-se ao sacrifício daqueles mortos que caiam junto com pedaços dos muros. Meio carcomidos e derretidos, meio devorados violentamente mortos, os guardas resistiram até o fim.
Anjih continuava a ver, aqui e ali, por sob a sacada dos muros, o que oferecia alguma proteção contra a chuva, coisas que não sabia o que eram. Pareciam mortas... Mas presa em quase cada uma delas havia um pedaço de tamuraniano morto. Algumas estavam com flechas encravadas e com cortes feitos por espadas e machados, mas ainda se moviam e espreitavam.
Eram parecidos com insetos... Mas não eram insetos. Suas imagens tremeluziam e o espaço, ao redor, parecia embaçar. Mesmo entre os que estavam mortos, alguns ainda se mexiam, em espasmos, tentando ainda alcançar os dois irmãos que corriam, em sua sede de matar-mutilar-cortar-furar-derreter-devorar.
Alguns pareciam arqueiros, outros tinham garras que mais pareciam lâminas. Outros eram grandes como cavalos e de suas mandíbulas escorria um líquido esverdeado que à medida que caia, fazia buraco onde tocava.
Eram eles os culpados pela chacina... Mas por que?
Percebendo que Ti-Neh estava entrando em um estado de pânico que logo a impediria de continuar correndo, Anjih arrancou um pedaço de seu quimono e amarrou nos olhos de sua irmã.
-- Ouça, minha pequenina, eu quero que você seja corajosa agora, certo? Eu quero que você feche os olhos com força e só abra quando eu tirar a venda. O que eu mandar você fazer, você fará, certo?
-- Mas Anjih, -- ela estava chorando baixinho... Seus olhos arregalados só diziam "medo" -- e como é que eu vou correr?
-- Não se preocupe, minha linda... Eu carrego você.
Amarrou com um laço delicado, mas forte, a venda improvisada na irmã e com um pequeno esforço a ergueu sobre o ombro direito. Com o que restara de sua túnica do kimono a cobriu para que tivesse um mínimo de proteção. Seu próprio tronco ficaria desprotegido e os efeitos já podiam ser sentidos na pele que se avermelhava.
Assim preparado, Anjih correu. Correu como nunca havia corrido na vida...


Tamura, 10 anos atrás:
Nos muros do Palácio Imperial.

A multidão tentava entrar, todos ao mesmo tempo, pelo portão do Palácio Imperial. O pânico havia tomado conta da população que buscava a salvação prometida. Traziam trouxas de roupas, animais de criação e mascotes. Crianças choravam e gritavam por seus pais. Velhos e mulheres cobriam os olhos e se protegiam como podiam. Todos desesperados e cobertos de sangue.
Anjih percebeu que muitos estavam feridos. Outros carregavam mortos, sem perceber que o que levavam era apenas uma trouxa de carne morta. Braços pendurados,  mãos amputadas e pernas substituídas momentaneamente por muletas improvisadas... sem ao menos se dar conta disso.
Os soldados os faziam atravessar os muros pelo portão. O faziam mal e mal por estarem ocupados em combate. Lutando contra aquelas criaturas do pesadelo.
Ritmadas pelos trovões que soavam sobre suas cabeças, hordas de demônios insetóides colidiam e se lançavam novamente contar a pobre
barragem que os samurais da Guarda Imperial faziam. A medida que se afastavam e se preparavam para colidir novamente, suas garras e presas eram mais e mais lavadas de
sangue e restos de corpos.
Samurais caíam como moscas. Espadas ancestrais se quebravam sobre carapaças. Nada poderia impedir que aquela parte do grupamento fosse
derrotada e que os demônios invadissem o palácio. Se conseguissem, a população que havia entrado seria chacinada e haveria uma passagem para chegarem ao Imperador. Todas as esperanças estariam perdidas.
Nem Anjih e nem Ti-Neh teriam como se salvar... ou ver o pai novamente.  Nesse momento um alarido rompeu o ar. Anjih se virou e viu, ao final da rua, um batalhão samurai, fazendo escudo de proteção em torno de quase uma centena de cidadãos. Eram os últimos soldados protegendo os últimos cidadãos a serem salvos.
E, a frente do batalhão, com sua já característica barriga proeminente, O Capitão Toranaga.
-- Guarda Imperial! Vamos abrir espaço para que estas pessoas possam correr para o Palácio. Formação em cunha. Arqueiros!
-- Sim senhor? -- Um dos arqueiros, um homem magro e quase do mesmo tamanho baixo do Capitão Toranaga, porém com um olhar de coragem que emanava do seu único olho (o direito estava tapado por uma bandagem ensangüentada) se apresentou a frente. Era Akimoto, sargento responsável pelos pouco mais de trinta arqueiros que restaram ao grupamento.
-- Utilizem flechas incendiárias. Acertem os grandes... e, Akimoto...
-- Pois não senhor?
-- Atirar a vontade... quando acabarem as flechas, façam suas lâminas cantarem.
-- Certo, senhor.
-- Akimoto?
-- Senhor?
-- Foi um prazer servir com você, Akimoto-sam. Espero encontrá-lo no reino de Lin-Wu.
-- Eu também, Toranaga-sama... todos nós... -- o resto do que quer que Akimoto fosse dizer, se perdeu em seu peito. Não era hora de
palavras. Era hora de espadas sanguinárias retalharem corpos e flechas incendiárias cortarem o ar.
Toranaga se virou na direção de seus últimos homens. Menos de 200 haviam restado. Eram samurais que, em sua maioria, haviam sido treinados por ele mesmo. Conhecia-os como a filhos... sabia seus nomes e seus sonhos. A altivez que possuíam, mesmo frente a morte que se anunciava em letras indeléveis, era o que de melhor existia nos tamuranianos. As lendas colocavam a origem do povo de Jade junto aos elfos... era hora de mostrar que era verdade.
Seus rostos não demonstravam medo. Não que não o sentissem... apenas o conheciam bem. Como a um companheiro inseparável que pode lhe aconselhar, mas não dita suas ações. Seus olhos estavam fixos no inimigo que com o qual se bateriam. Se os Demônios queriam sangue, o teriam. Mas o sangue tamuraniano não cairia só. Toranaga olhou para a sua cidade. Estava em chamas. Mesmo os gritos que ouvira durante as últimas horas estavam se escasseando. Quase não tinham mais o que matar, aqueles malditos. O céu estava escarlate e o sol quase se punha no horizonte. Parecia um crepúsculo de sangue, no qual o próprio sol morria.
Sangue e ácido cada vez mais forte corroia o que sobrara das armaduras, depois de horas de lutas. Saíra com dez grupamentos de 500
homens. O seu era o último a voltar... Com menos de duas centenas, na
sua maioria, feridos e todos exaustos.
-- Samurais da Guarda Imperial! Alguém quer viver para sempre? -- Toranaga sabia a resposta antes mesmo da pergunta.
-- Não senhor! ? Duzentas vozes gritaram em uma só voz.
-- Atacar!
"Sim", pensou o Capitão Toranaga, o último capitão tamuriano, a frente de seus últimos homens, "este é um bom dia para morrer... tão bom quanto outro qualquer...".


Tamura, 10 anos atrás: 
Portão Sul do Palácio Imperial.

As flechas incendiárias descreveram arcos perfeitos sobre as cabeças dos samurais que corriam com suas lanças em direção aos demônios. Parte das criaturas caiu com a saraivada flamejante. Seus gritos eram assustadores a ponte de fazer com que os homens diminuíssem o passo de corrida. Mas não para fazer com que parassem.
A frente deles, com sua Katana desembainhada, o Capitão Toranaga gritava palavras e frases de estímulo, intercaladas com maldições aos demônios. Ao final das flechas, os arqueiros jogaram seus arcos ao chão, fazendo cantar as suas espadas ao saírem das bainhas. Formaram uma nova onda de ataque, liderados por Akimoto.
O Choque entre os demônios e os samurais foi brutal. Apesar de serem menos de cinqüenta criaturas, suas garras faziam vítimas, uma atrás da outra. Aqueles insetos que pareciam com arqueiros élficos derrubaram com suas flechas quase todos os homens da segunda onda. Mesmo Akimoto caiu, com setas purulentas encravadas pelo tronco e abdômen. Toranaga e aqueles que foram com ele na primeira onda se viram sós.
Poucas dezenas de homens ainda estavam de pé. E a qualquer minuto o próprio capitão tombaria. Caiam como moscas os samurais... mas mesmo assim levavam o máximo de demônios que podiam. Caíam cinco samurais, mas um demônio caia com ele. A questão se tornara: Quem seria erradicado antes? Os Homens ou os demônios?
A maior parte dos cidadãos conseguiu atravessar os portões... mas aqueles que eram muito lentos ou que não conseguiam correr... esses foram pegos ainda pela horda demoníaca. Anjih assistiu a cena com lágrimas nos olhos e, no peito, a dor da incapacidade. Aqueles homens davam as suas vidas por cidadãos que nem ao menos conheciam, para cumprir seu compromisso assumido com o Imperador. Aquele Homem lá embaixo era Toranaga-sama, amigo de seu pai e que, juntos, eram tudo o que Anjih queria ser. Era aquele homem que se batia em frente ao portão Sul. Era ele que esperava a apenas a honra de morrer como Samurai.
-- Toranaga!
Um grito cortou o ar. Vinha de dentro do portão e a voz que o emitira era conhecida. Com ela vinha a esperança que, teimosa como ela só, pareceu renascer. Na direção da voz, Anjih correu com o que restara de suas forças. Ao seu ombro, sua irmã sussurrou:
--"Papai?"


Autor: João Ricardo Marques